sábado, 24 de abril de 2010

Leitura do medo...

Todos já sentiram medo, com a mesma naturalidade com que se sente sede. Vive em nós, coabita no mesmo espaço e aparece quase sempre para nos lembrar que não somos tão fortes como pensamos.
O coração muda de ritmo, dispara como se já não lhe chegasse o espaço que tem. Sentimo-nos presos ao chão no exacto segundo em que nos apetece correr. Os pés pesam chumbo, o corpo parece de mármore, a alma pesa tonoledas e adivinhamos no mesmo momento que só nos resta a estaticidade. Esperamos, tentamos baixar o ritmo da respiração, pensamos que somos capazes e avançamos, como uma cria com poucas horas de vida, dando um reles e tosco passo.......Mas, o medo permanece cá, naquele lugar secreto a que só ele tem acesso, e pinta-nos a alma em tons que não queremos conhecer. Não o ignoramos e isso é a terrível sentença para a nossa incapacidade de o vencer. Sabemos-lhe o rosto, sentimos-lhe o cheiro, ouvimos a gargalhada que solta, enquanto nos aumenta a aflição, e sabemos dele quase tudo menos a forma de o arrancar. Recuamos lentamente para o lugar de onde em vão tentamos sair e então baixamos a cabeça, sentimos vergonha daquela incapacidade que nos inunda e mordemos os lábios em gesto de revolta calada. Somos soldados da nossa guerra, somos água do nosso próprio mar e no meio da vastidão deixámo-nos ir, afundámo-nos em nós mesmos e em silêncio profundo esperamos que ele se vá embora. Mas ele não vai.....e pouco tempo passa até percebermos que a única maneira de o vencer é quebrar as cordas, soltar as amarras, despregar os pés do chão e vir à tona. Resta-nos a vontade de o enfrentar agora com uma nova força que até então não nos tinha sido apresentada. Fechamos as mãos com toda a força, impulsionamos o corpo para a frente deixando um pé seguir à frente do outro. Assim, entre a vontade e a força nasce a coragem que torna o medo pequeno, tão pequeno, cada vez mais pequeno até ficarmos infinitamente maiores do que ele..... Resta-nos seguir em frente por esse caminho a que chamam vida e esperar pelo dia em que novamente o iremos enfrentar...

Sem comentários: